O terapeuta da fala e as alterações de Linguagem na Doença de Alzheimer


Pela nossa terapeuta da fala, Patrícia Eusébio

 

A Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção,
concentração, linguagem, pensamento, entre outras) (Alzheimer Portugal, s.d.). É ainda o tipo de demência mais comum, correspondendo a cerca de 50 a 70% dos casos.

Assim, interessa perceber o que se entende por demência. O termo “demência” diz respeito a uma série de sintomas que se encontram geralmente em pessoas com doenças cerebrais que causam destruição e perda de células cerebrais. A perda de células cerebrais é um processo natural, mas em doenças do foro demencial isso ocorre a um ritmo mais rápido e faz com que o cérebro da pessoa não funcione de uma forma normal (Borgues, Luginger, Oliveira, & Ribeiro, 2005). A demência afeta as capacidades mentais da pessoa, alterando progressivamente um conjunto de funções necessárias para o desenvolvimento de uma vida independente e autónoma (Freitas, Lucas, & Monteiro, 2013). Com aumento da esperança média de vida, doenças como o Alzheimer, têm aumentado a sua prevalência, daí que seja cada vez mais importante falar acerca desta patologia.

Esta doença afeta a memória e o funcionamento mental, mas pode também levar a outros problemas, tais como confusão, mudanças de humor e desorientação no tempo e no espaço (Borgues, Luginger, Oliveira, & Ribeiro, 2005).

 

Alterações de Linguagem
As perdas ao nível da memória, bem como a afeção de outras funções linguísticas, que se encontram relacionadas com a síndrome demencial, afetam competências ao nível da compreensão e expressão da linguagem (Viera, 2014). Com o passar do tempo, as  competências linguísticas de um indivíduo com Doença de Alzheimer vão-se deteriorando o que condiciona a sua vida diária e dificulta a sua comunicação.

De acordo com as competências linguísticas que ficarem comprometidas, pode
observar-se, entre outros:

• Parafasias (substituição de uma palavras/som por outro);
• Disartria (dificuldade em articular algumas palavras);
• Dificuldades de evocação e nomeação (dificuldade em lembrar-se do
nome das coisas);
• Circunlóquio (“andar às voltas” no assunto como forma de chegar à
palavra pretendida);
• Preserveração (repetição contínua da mesma palavra);
• Agramatismo (supressão das palavras não essenciais numa frase);
• Dificuldades semânticas;
• Dificuldades na manutenção de uma conversa e fuga ao tópico de
conversação, levando a discurso muitas vezes incoerente;
• Dificuldades de compreensão (Morais, 2009; Viera, 2014).

A alteração de linguagem mais comum nestes casos está relacionada com a componente semântica, sendo visíveis pelas dificuldades de nomeação, associação de palavras e compreensão (Morais, 2009).

 

O papel do Terapeuta da Fala

As alterações na memória e outras funções cognitivas levam a dificuldades ao nível da compreensão e expressão verbal oral, o que provoca consequências ao nível comunicativo. Por outro lado, as questões comportamentais também podem provocar dificuldades de comunicação para o indivíduo. Em fases mais avançadas, a perceção, a atenção, a codificação, a evocação e as funções executivas encontram-se bastante comprometidas. A nomeação, descrição, conversação e escrita ficam alteradas devido à afeção da memória semântica (Viera, 2014).

Deste modo, e atendendo às funções do terapeuta da fala, este vai ser um importante aliado na intervenção dos indivíduos com Doença de Alzheimer, uma vez que faz parte das suas funções o tratamento de défices ao nível da comunicação e linguagem que aqui poderão estar bem demarcados. À medida que a doença evolui, o terapeuta passa também a focar-se na identificação e  implementação de estratégias compensatórias.

 

Referências Bibliográficas
Alzheimer Portugal. (s.d.). A Doença de Alzheimer

Borgues, R., Luginger, S., Oliveira, M., & Ribeiro, M. (2005). Doença de Alzheimer: Perfil Neuropsicológico e Tratamento. Porto: Universidade Lusíada.

Freitas, C., Lucas, C., & Monteiro, M. I. (2013). A Doença de Alzheimer: Características, Sintomas e Intervenções.

Morais, E. (2009). Alterações de Linguagem na Doença de Alzheimer. Universidade Fernando Pessoa: Porto.

Viera, R. (2014). Intervenção do Terapeuta da Fala com a Pessoa com Demência. Porto: Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.