A influência da cadeia visceral nos membros inferiores


Autor: Rui Sousa
Fisioterapeuta da Dr. Merino Clínica Médica

As diferenças longitudinais e arquitetónicas dos membros inferiores dependem das compensações das cadeias musculares (Busquet, L. 2012). Torna se interessante entender que os membros inferiores se comportam como “marionetas”, adaptam se para onde os “fios” (músculos) são mais tensionados. Estas tensões nas cadeias musculares criam modificações que alteram de maneira coerente a pélvis, as coxofemorais, os joelhos, os tornozelos, os pés até aos arcos plantares e dedos dos pés. Essas modificações existem por influências ascendentes ou descendentes. No entanto, entender-se-á que na parte superior dos membros inferiores, a cadeia visceral (CV) será a orquestra, originando influências descendentes (Busquet-Vanderheyden, M. 2009).

O exame da pélvis não pode fazer-se sem ter em conta as influências da CV. A análise pélvica deve ser “visualizada” em duas cavidades viscerais, a pélvis maior ou ilíaca (onde se encontra o conteúdo visceral mais superior) e a pélvis menor ou cavidade pelviana (mais inferior, onde se encontra o conteúdo urológico e sexual) (Busquet, L. 2012). Analisemos as diferentes compensações pélvicas relacionadas com a esfera visceral. Essas compensações instalam-se por dois tipos de adaptações:

  • congestão numa cavidade pélvica que origina forças internas centrífugas (expansão (+));
  • tensão numa cavidade pélvica que origina forças internas centrípetas (retração (-)).

Este tipo de adaptações por expansão (+) ou retração (-) do conteúdo visceral, internamente na pélvis, acarreta uma necessidade de adaptação óssea dos ilíacos em anterioridade, posterioridade, abertura ou fechamento (Busquet, L. 2012). Eles não podem ser estanques, senão existiria lesões viscerais constantes por falta de adaptação do espaço. Esse problema no nosso corpo é solucionado graças à plasticidade dos ossos (vivos) e a organização das cadeias musculares em relação com o plano visceral. Todas estas adaptações ósseas e viscerais podem ser unilaterais ou bilaterais (Busquet, L., Pionnier, B., Busquet-Vanderheyden, M. 2011). Observemos de seguida pelo método das cadeias como se adapta unilateralmente um ilíaco em abertura ou fechamento, bilateralmente a pélvis em abertura ou fechamento e como essas adaptações criam diferentes padrões arquitetónicos ao nível dos membros inferior.

 

Ilíaco em Abertura

1º – Faz se o teste para avaliar a posição do ilíaco.

  • No teste de abertura o membro inferior alarga.
  • No teste de fechamento o membro inferior não encurta.

Significa que o ilíaco está em abertura.

  • A cadeia cruzada de abertura (CCA) está hiperprogramada (Padrão muscular mais ativo).
  •  Essa situação pode estar relacionada com uma congestão (+) abdominal ou com tensão pelviana (-) (fig. – Busquet, L. 2012).

Ilíaco em abertura direita

 

Ilíaco em Fechamento

1º – Faz se o teste para avaliar a posição do ilíaco.

  • No teste de fechamento o membro inferior encurta.
  • No teste de abertura o membro inferior não alarga.

Significa que o ilíaco está em fechamento.

  • A cadeia cruzada de fechamento (CCF) está hiperprogramada (Padrão muscular mais ativo).
  • Essa situação pode estar relacionada com uma tensão (-)abdominal ou com congestão pelviana (+) (fig. – Busquet, L. 2012).

 

Ilíaco em fechamento

 

Assim sendo, quando a influência interna está lateralizada, a compensação abdominal ou pélvica é unilateral. Somente afeta uma hemipélvis com o membro inferior correspondente. Quando a influência interna interessa toda a cavidade, a compensação é bilateral. Para melhor esclarecimento das classificações utilizadas temos a abertura-fechamento que se referem às compensações dos ilíacos e à pélvis, a retração-expansão que se referem às variações de volume das cavidades (Busquet, L., Pionnier, B., Busquet-Vanderheyden, M. 2011).

 

Pélvis em Abertura

Os membros inferiores durante os testes alargam-se e não se encurtam.
Significa que os dois ilíacos estão em abertura.
A hiperprogramação das CCA podem estar relacionadas com:

  • 1ª Possibilidade: uma congestão (+) abdominal, forças centrífugas;
  • 2ª Possibilidade: tensões (-) pelvianas, forças centrípetas.

 

 

Pélvis em Fechamento

Os 2 membros inferiores durante os testes encurtam-se e não se alargam.
Significa que os dois ilíacos estão em fechamento.
A hiperprogramação das CCF podem estar relacionadas com:

  • 1ª Possibilidade: tensões (-) abdominais, forças centrípetas;
  • 2ª Possibilidade: uma congestão (+) pelviana, forças centrífugas.

 

Conclusão:
A visão através das cadeias baseia se num programa fiável e coerente que respeita a anatomia e a fisiologia que serve de base comum para melhorar a forma como abordamos os nossos tratamentos. As teorias articulares não podem explicar as diferentes compensações de abertura-fechamento das cavidades abdominais e pelvianas que nos mostra a coerência clínica. As cadeias musculares permitem nos ir mais longe na análise, compreensão e no tratamento dos pacientes.


Bibliografia
– Busquet, L. 1998., As cadeias musculares, Volume 2, Lordoses – Cifoses – Escoliose e Deformações Torácicas. Edições Busquet.
– Busquet, L. 2012., Las cadenas fisiológico, Tomo II, La cintura pélvica y el membro inferior. Editions Busquet.
– Busquet, L., Pionnier, B., Busquet-Vanderheyden, M. 2011. Las Cadenas Fisiologicas, Cuaderno de Práctica. Editions Busquet
– Busquet-Vanderheyden, M. 2009., As cadeias fisiológicas, Volume VI, A cadeia visceral – Abdome/Pelve: Descrição e Tratamento. Edições Manole.
– Drake, R.L., Vogl, W., Mitchell, A.W.M. 2005. Gray’s Anatomia para estudantes. Elsevier.
– Netter, F.H. 2015 Atlas de Anatomia Humana 2º Edição, Edições Elsevier.