Longo Covid: impacto mental e emocional


Pela nossa psicóloga, Diana Gaspar


Se nos concentrarmos apenas na recuperação do vírus e não na pessoa como um todo, o impacto negativo do mesmo e da pandemia, será muito maior e muito mais longo no tempo, podendo ser a recuperação em si incompleta e mais difícil.

Os sintomas associados à infeção por covid-19 são inúmeros, assumindo alguns deles manifestações mentais e emocionais muito expressivas, como a sensação de fadiga, alterações de humor, sintomas de ansiedade e depressão, alterações significativas da memória e da concentração, com várias alterações também nos padrões de sono. Um estudo publicado pela The Lancet Psychiatry (2021) mostra que um terço dos pacientes com COVID-19 manifesta sintomas neurológicos ou psicológicos, sabendo-se também que, pelo menos 10% das pessoas com diagnóstico de Covid podem continuar com estes ou outros sintomas por muito tempo, sendo designado este quadro por long covid. O long covid é diagnosticado quando os sintomas provocados pelo coronavírus, após o início da fase aguda da infeção, têm a duração de pelo menos dois meses. Não sendo em si, uma condição que seja na sua origem de saúde mental, sabemos que traz um impacto muito significativo à vida mental e emocional de cada pessoa. Neste sentido, a intervenção psicológica é fundamental e necessária nesta recuperação. O corpo não está dissociado da mente, nem a mente do corpo, e assim sendo, aquilo que pensamos e sentimos ajuda ou prejudica qualquer tipo de recuperação. Assim sendo, é fundamental ajudar a pessoa como um todo e não em função das suas partes, começando por desconstruir esta influência entre o corpo e a mente. Do ponto de vista mental e emocional, conseguimos identificar alguns pensamentos que funcionam como gatilhos negativos para saúde mental:

– a sensação de vulnerabilidade constante à doença,

– o medo recorrente de a contrair,

– a imprevisibilidade da sua evolução,

– a perspetiva de a poder ter mais do que uma vez,

– as incertezas sociais e económicas decorrentes das sucessivas alterações sociais e laborais,

– os isolamentos recorrentes,

– o teletrabalho que para as maior parte das pessoas é bastante ansiogénico,

– a forma como a comunicação social partilha e esclarece a informação sobre a covid,

– as alterações de rotina e de hábitos em função da doença, e das regras sociais em função do momento pandémico.

Sabemos que estes tipo de pensamentos e ideias, podem levar posteriormente ao desenvolvimento de determinados comportamentos, como por exemplo, comportamentos obsessivo-compulsivos, de evitação, de hipervigilância, de isolamento e de adição (comida, álcool e drogas), que em si potenciam também o long covid.

É portanto fundamental, que todas estas temáticas sejam identificadas e trabalhadas e que sejam construídos fatores de proteção individuais para fazer frente a todas estas dificuldades. Sabemos que o autocuidado base, que passa por exemplo, por uma boa higiene de sono alternada com realização de exercício físico, ajuda na regulação dos processos inflamatórios, no sono, do apetite, da libido e da concentração. No entanto, é necessário um trabalho individual para que cada pessoa consiga identificar a origem  dos seus medos, tristezas e angústias, que tenha espaço para fazer os seus lutos, para que as suas emoções possam ser transformadas e integradas numa história de vida com sentido, esperança e resiliência.

Ainda não conseguimos perceber, como achámos no início, o fim desta pandemia, mas sabemos que podemos criar estratégias de auto-regulação emocional e comportamental, que nos façam alterar e transformar formas de sentir e viver este momento. Há sempre espaço para crescer, recomeçar e reaprender a viver.