A Terapia da Fala e a Perturbação do Espectro do Autismo


O que é a Perturbação do Espectro do Autismo?

A nossa terapeuta da fala, Patrícia Eusébio, explica.

A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) pode ser definida como uma perturbação que afeta todas as áreas de desenvolvimento da criança e que é caracterizada por alterações nas interações sociais e na comunicação, apresentando regularmente movimentos corporais atípicos e estereotipados e, por vezes, alguns comportamentos desafiantes e agressivos (autoagressão e agressão ao outro) (Peixoto & Rocha, 2009). Desta forma, a criança com PEA apresenta dificuldades de regulação, processamento, experiência sensorial e percetiva (Marques, 1998).

 

Perturbação da Interação Social

Pode considerar-se um Perturbação da Interação Social quando estão presentes pelos menos dois dos seguintes critérios:

• Défice no uso de comportamentos não-verbais, como por exemplo: contacto ocular, expressões faciais, postura corporal e gestos;
• Muita dificuldade para desenvolver relações com os outros adequadas ao seu nível de desenvolvimento;
• Ausência de partilha com os outros de interesses e objetos;
• Ausência de reciprocidade emocional e social.

Um sinal de alerta importante deste tipo de perturbação é o défice ao nível da atenção conjunta, isto é, um défice na capacidade que criança tem em partilhar a atenção com os outros sobre um mesmo objeto. Esta competência tem várias etapas de aquisição e a criança com PEA vai apresentar dificuldades em praticamente todas elas: não sorri em resposta ao sorriso do outro, não segue o olhar do outro, não aponta e não procura partilha social (Bandeira de Lima, 2012).

Outras competências que fazem parte do normal desenvolvimento da criança e que as crianças com PEA apresentam dificuldades são, por exemplo: responder ao nome, estabelecer amizades e a partilha de objetos (Peixoto & Rocha, 2009).

 

Perturbação da Comunicação e da Linguagem

As crianças com PEA não só têm dificuldades em desenvolver linguagem e fala, mas também apresentam dificuldades na compreensão e no uso de comportamentos não verbais em interações comunicativas (Peixoto & Rocha, 2009). O atraso do desenvolvimento da linguagem é uma das queixas mais comuns do pais que os leva a procurarem uma resposta especializada (Bandeira de Lima, 2012).

Nestas crianças, é comum a ausência de motivação para a comunicação (verbal e não verbal) e a tendência para ver “o outro” como objeto ou meio para atingir um fim. Assim, a criança com autismo está mais interessada em comunicar quando há algo que deseja e não consegue ter sozinha. Este défice linguístico está presente, quer nos aspetos recetivos, quer expressivos da  comunicação. Por um lado, as crianças com PEA são pouco recetivas aos atos comunicativos dos outros, por outro, as suas próprias iniciativas comunicativas são raras e acontecem mais como função reguladora do que declarativa, o que influencia bastante as dificuldades de comunicação (Agostinho, 2013).

Pode considerar-se que existe um défice nesta área quando conseguimos identificar na criança algum destes critérios:

• Ausência de contacto ocular;
• Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral (sem que tente compensar com alguma forma de comunicação não-verbal como os gestos);
• Ausência de reconhecimento da voz dos familiares mais próximos;
• Uso repetitivos das mesmas palavras, expressões ou movimentos;
• Nas crianças com um discurso apropriado, uma grande dificuldade em iniciar e manter uma conversa com os outros;
• Muitas dificuldades no jogo realista e imitativo, adequado ao nível de desenvolvimento (o “faz-de-conta”) (Bandeira de Lima, 2012).

 

A Terapia da Fala
Sendo o terapeuta da fala o profissional responsável pela prevenção, avaliação e tratamento das perturbações da comunicação humana, englobando não só todas as funções associadas à  compreensão e expressão da linguagem oral e escrita, mas também outras formas de comunicação não-verbal (Agostinho, 2013), torna-se claro que este será uma figura muito importante no processo de desenvolvimento de uma criança com PEA.

O papel do terapeuta da fala nestes casos passa pela promoção da comunicação, linguagem e fala, de acordo com as necessidades de cada criança. Desta forma, um dos grandes objetivos do terapeuta é a promoção de uma comunicação funcional, o que poderá envolver o uso da comunicação aumentativa e/ou alternativa, com o uso de gestos, signos gráficos, construção de cadernos ou tabelas de comunicação, imagens fotográficas, entre outros.

 

Referências Bibliográficas

  • Agostinho, S. (2013). A Terapia da Fala em Contexto Escolar: Competências de Comunicação e Promoção da Autonomia de Alunos com Perturbação do Espetro do Autismo. Coimbra: Instituto Superior Miguel Torga.
  • Bandeira de Lima, C. (2012). Perturbações do Espectro do Autismo: manual prático de intervenção. Lidel.
  • Marques, C. (1998). Autismo – Intervenção terapêutica na 1.ª infância. Revista Análise Psicológica, pp. 139-144.
  • Peixoto, V., & Rocha, J. (2009). Metodologias de Intervenção em Terapia da Fala. Porto: edições Universidade Fernando Pessoa.