O nosso osteopata, Ricardo Magalhães, deixa-nos um artigo sobre a enxaquecas, quais os fatores que a desencadeiam, quais as alterações ao estilo de vida e como a osteopatia pode ajudar.

Enxaqueca é um tipo de dor de cabeça de origem desconhecida, por vezes hereditária, afetando 1.4 biliões de pessoas no mundo (com maior incidência na Europa), afetando maioritariamente as mulheres entre os 25 e os 50 anos de idade de forma incapacitante. Em contraste com os adultos, antes da puberdade, a enxaqueca afeta predominantemente o sexo masculino.

A dor de cabeça do tipo enxaqueca carateriza-se por uma dor de intensidade moderada a severa, predominantemente unilateral, de carácter pulsátil, ao longo de 4-72 horas, que é desencadeada por diversos fatores stressantes (triggers). Esta é frequentemente acompanhada por náuseas, vómitos, hipersensibilidade ao som e à luz e agrava com exercício físico no momento da crise. Sensivelmente entre 1 a 5 pessoas, as crises são antecipadas por sinais neurológicos apelidados de aura (alterações visuais, sensitivas e por vezes alterações da fala), com duração de 5 a 60 minutos.

A intervenção osteopática no tratamento desta condição tem como objetivo reduzir a frequência de crises, a intensidade de dor e a incapacidade associada. A eficácia desta abordagem encontra-se comprovada pelos estudos mais recentes.

A médio-longo prazo, esta abordagem foca-se na tentativa de reduzir a carga medicamentosa implementada para o tratamento desta condição.

Porém, para que o tratamento apresente os melhores resultados é de extrema importância demonstrar ao paciente a relevância da alteração/melhoria do estilo de vida visando a redução dos triggers que potenciam o início da crise.

 

Que alterações de estilo de vida, quais os triggers?

Mudanças/alterações no estilo de vida são fundamentais para alterar o padrão das crises de enxaqueca. Esta intervenção é crucial para potenciar os resultados a médio-longo prazo da abordagem osteopática.

Assim, a procura e identificação dos fatores potenciadores das crises deve ser o primeiro passo nesta mudança. Para isso, torna-se necessário encontrar estratégias individualizadas para reduzir e gerenciar o impacto destes fatores no quotidiano.

Existem 5 aspetos transversais, presentes no dia-a-dia, que devem ser alvo de incidência pelo profissional de saúde e pelo utente. Estes são:

  1. Stress

O stress é um poderoso fator potenciador de crises de enxaqueca. Estudos recentes demonstraram que cerca de 80 % dos episódios de enxaqueca se devem a eventos stressantes em várias idades. A consciencialização e criação de mecanismos de controlo e prevenção, demonstram efeitos positivos a medio-longo prazo nestes indivíduos.

  1. Rotinas alimentares

O estabelecimento de uma rotina alimentar (evitar “saltar” refeições) juntamente com uma alimentação saudável (evitar refeições rápidas, ricas em sal e açúcar e dietas bastante restritivas) é fulcral no controlo da enxaqueca.

  1. Sono recuperador

A falta ou o excesso de sono são fatores que desencadeiam uma possível crise de enxaqueca.  De modo a contornar este fator, é importante que exista uma boa “higiene” de sono. As recomendações atuais para um sono recuperador consistem em: 9-12h de sono em crianças dos 6-12 anos e 8-10h de sono para jovens e adultos.

  1. Hidratação adequada

Á luz do conhecimento atual, a adequada ingestão de água diária pode ajudar na diminuição da frequência de crises de enxaqueca. Na população adulta diagnosticada com enxaqueca, cerca de 36% dos indivíduos reportam que o baixo nível de hidratação é um fator de risco para o desenvolvimento de crises no seu dia-a-dia. A recomendação diária para se obter um bom nível de hidratação é cerca de 25 a 30ml de água por kg corporal.

  1. Exercício físico (prevenção)

A pratica regular de atividade física está relacionada com a diminuição do número de crises e intensidade das mesmas. Para além disso, o exercício é uma das principais estratégias utilizadas para a diminuição do stress, ansiedade, depressão e melhoria da saúde mental. Porém, a prática de exercício desmedida é desaconselhada nesta população, podendo ser uma das causas de crises. Assim, torna-se essencial adequar a intensidade, frequência e tipo de atividade física a cada pessoa.

  1. Fatores individuais

Consumo excessivo de álcool, café (mais de 3 chávenas por dia ou após 16h), tabaco, drogas e exposição em demasia à “luz azul” de ecrãs, são alguns dos fatores individuais mais comuns para o desencadear de uma crise de enxaqueca.

 

Referências:

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