O papel da Intervenção Precoce


A Intervenção Precoce desempenha um papel primordial no desenvolvimento infantil, e a nossa psicóloga Joana Freitas, especialista em Autismo e em Estimulação Precoce, explica as razões.

Este papel assenta desde a intervenção à prevenção, nomeadamente em crianças de risco.

Atualmente, é inquestionável a importância da Intervenção Precoce (IP) no sentido da promoção do desenvolvimento das crianças com dificuldades ou em risco de atraso de desenvolvimento, nos seus primeiros anos de vida e para as respetivas famílias, assumindo-se que as práticas de IP assentam numa perspetiva sistémica, ecológica e centrada na família. Em muitos países, a IP é  considerada uma área prioritária de intervenção.

A Intervenção Precoce visa uma intervenção direcionada a crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 6 anos de idade e assuas famílias. Abarca um somatório de ações e medidas que se destinam a crianças que apresentam ou estão em risco de atraso de desenvolvimento. Felgueiras refere que o termo IP tem sido utilizado para descrever o conjunto de esforços desenvolvidos no  sentido de prevenir ou atenuar os problemas de desenvolvimento ou de comportamento das crianças na primeira infância, resultantes de influências biológicas e/ou ambientais. Os primeiros anos de vida de uma criança são determinantes para todo o seu desenvolvimento e construção da sua personalidade. Assim, a IP e a sua qualidade terão reflexos diretos no seu desenvolvimento.

O modelo desenvolvimental de Guralnick veio dar um contributo importante na área da IP. O autor refere que um bom programa de IP constrói alicerces nas necessidades da família, envolvendo-a na comunidade, articulando ao mesmo tempo com todos os serviços e apoios numa perspetiva sistémica. É um modelo que se destina a crianças em risco, crianças com alguma deficiência e  crianças de famílias sujeitas a fatores de risco. Primeiramente, supunha-se que as mudanças no comportamento das crianças eram resultado das alterações normativas do sistema nervoso central. Hoje, sabemos que todo o processo de desenvolvimento ocorre de um modo dinâmico e é suscetível de ser moldado a partir de inúmeros estímulos externos. As características físicas e estruturais do ambiente em que a criança se encontra inserida são, todas elas, e independentemente de como, determinantes no processo de desenvolvimento da criança.

Bronfenbrenner propõe um modelo que privilegia as relações recíprocas e dinâmicas entre o indivíduo e o meio. De acordo com o seu modelo ecológico, o desenvolvimento da criança será o  resultado da sua interação nos diferentes contextos onde esta se encontra inserida. A sua teoria considera que o ambiente em que as crianças se encontram irá influenciar diretamente o seu  crescimento. Este crescimento decorre em pequenas etapas, tendo como finalidade a construção da sua personalidade, através de experiências pelas quais a criança irá passar.

A criança em desenvolvimento, inserida num determinado ambiente com características físicas e materiais, experimenta um tipo de atos, ações e relações interpessoais. O desenvolvimento da criança acontece quando esta se relaciona ativamente com o meio físico e social.

A IP é “valiosa”, não apenas no caso de crianças com algum tipo de deficiência, como também para crianças que se encontram em situações de risco biológico e ambiental. A IP desempenha um papel determinante para as famílias destas crianças, uma vez que proporciona uma melhoria na qualidade de vida, reduzindo, desta forma fatores de risco e melhorando as competências para que estas lidem com as suas crianças e promovendo também a capacidade destas famílias, no que concerne à gestão e resolução de problemas.

Hoje, as perspetivas de IP apontam um modelo ecosistémico e transacional, dando total importância aos contextos onde a criança se encontra inserida e o impacto destes no seu desenvolvimento. Os programas eficazes de IP devem-se basear num modelo de trabalho com práticas centradas na família. Atualmente, uma prática adequada de IP deve ocorrer ao longo do dia, nos diferentes contextos da criança e da família. As atividades das famílias (no seu dia-adia), assim como da comunidade, são os grandes impulsionadores das aprendizagens das crianças, proporcionando experiências positivas para o seu desenvolvimento global.

Independentemente do contexto onde ocorre a intervenção, a criança aprende no seu dia-a-dia, no decurso das oportunidades e das aprendizagens que partilham com a sua família. Os pais e, ou, cuidadores devem ser considerados elementos fundamentais e capazes de intervir positivamente com a criança, cabendo à intervenção todo o apoio necessário, formal e informal. Paralelamente, a IP passou de um modelo centrado somente na criança e no trabalho do técnico, para um modelo que desenvolve uma abordagem de trabalho em equipa, sendo considerado muito vantajoso para o desenvolvimento global e para a resposta às necessidades da criança e da família.

A IP deve constituir-se como um instrumento organizador para as famílias, estabelecer um diagnóstico adequado, tendo em conta não apenas os problemas, mas também o potencial de  desenvolvimento da criança, a par das alterações a introduzir no meio ambiente para que tal potencial se possa afirmar. O objetivo máximo visa promover e estimular o desenvolvimento global e a adaptação ótima aos diferentes contextos de vida. A intervenção inclui o contexto de gabinete e de jardim-de-infância e, ou, domiciliário, existindo uma articulação com todos os contextos de vida da criança.

Bibliografia:

  • Almeida, I., C. (2004). Intervenção Precoce: Focada na criança ou centrada na família e na comunidade?
  • Bronfenbrenner, U. (1979). The ecology of human development: Experiments by nature and design. Cambridge, MA: Harvard University Press.
  • Felgueiras, I. (1997). Modelos de intervenção precoce em crianças com necessidades educativas especiais.
  • Guralnick, M., Neville, B., Hammond, M. A., & Connor, R. T. (2007). The friendships of young children with developmental delays: A longitudinal analysis. Journal of Applied Developmental Psychology.
  • Guralnick, M., Neville, B., Hammond, M. A., & Connor, R. T. (2007). Linkages between delayed children’s social interactions with mothers and peers.
  • McWilliam, R. A. (2010). Routines – Based Early Intervention – Supporting Young Children and their Families. Baltimore, M.D.: Paul H. Brookes.
  • NAEYC. (1997). National Association for the Education of Yong Children em: National Association for the Education of Young Children (NAEYC)(1997). Developmentally appropriate practice in early childhood programs serving children from birth through age 8 – a position statement of the National Association for the Education of the Young Children. Washington DC: NAEYC.