A Pirâmide – fatores para redução do risco de lesão


Artigo escrito pelo fisioterapeuta Pedro Martins

A ocorrência de uma lesão é um processo multifatorial e como tal existem inúmeras variáveis, estando muitas delas ligadas entre si. Devido a tudo isto torna-se difícil prever ou evitar lesões.  Para tentarmos diminuir a ocorrência de lesões é preciso conhecer profundamente cada um dos potenciais fatores de risco e a relação entre eles.

Um estudo de 2018 propôs uma pirâmide de fatores que pode ajudar na compreensão do porquê da ocorrência de lesões e quais medidas podem ser desenvolvidas pelos clubes e pelos seus profissionais para reduzir o risco. A pirâmide apresenta 7 níveis.

 

  1. Critério na seleção dos atletas: contratar ou manter jogadores incapazes de aguentar o stress da competição ou o estilo de jogo que a equipa tem vai aumentar o risco de ocorrência de lesões. O histórico de lesão de um atleta é um fator muito importante a ter em conta pois uma lesão prévia aumenta o risco de ocorrência de uma nova lesão na mesma região. Outros aspetos a ter em conta são a idade do jogador, a sua performance no passado e aspetos técnico-táticos que podem ou não ser adaptáveis à nova realidade. A incorporação de um novo jogador pode influenciar o desempenho de todos os outros e da equipa em conjunto, logo a escolha tem que ser criteriosa. Por fim, não podemos esquecer fatores de ordem psicológica e cultural.
  2. Controlo da carga: deve ser um processo individualizado, pois cada atleta tem um máximo de carga que pode tolerar. Ao ultrapassarmos esse limite estamos a aumentar o risco de lesão. O staff técnico deve identificar o limite de cada jogador e passar a informação ao treinador que deverá fazer essa gestão no treino. O aumento da carga deve ser um processo progressivo até ser atingido o nível exigido em competição.
  3. Desenvolvimento das capacidades do atleta: em alta competição os atletas estão sujeitos a níveis de exigência física muito elevados. Torna-se fundamental desenvolver programas de treino complementar com o intuito de melhorar os níveis de força, mobilidade e outras capacidades. Devemos portanto educar os atletas para a importância do treino e o papel que este pode ter na diminuição do risco de lesão.
  4. Controlo motor e qualidade do movimento: devemos analisar a capacidade de cada atleta para executar os movimentos e ações exigidos pelo desporto em questão. Exercícios que trabalhem estas capacidades contribuem para a realização de movimentos mais seguros e eficientes.
  5. Planos de prevenção de lesões: apesar de ser difícil prever ou evitar lesões devido à existência de inúmeras variáveis, sabemos que um plano de prevenção adequado à nossa realidade com exercícios suportados pela evidência científica pode ajudar a reduzir o risco de ocorrência das mesmas.
  6. Avaliação da lesão e recuperação: quando um atleta se lesiona devemos em primeiro lugar ter em atenção a importância de um diagnóstico rigoroso e depois disso estabelecer o tempo estimado para a recuperação envolvendo o atleta em todo este processo. Devemos estabelecer critérios de evolução, respeitando sempre os tempos fisiológicos próprios de cada lesão de modo a evitarmos complicações futuras. O atleta deve, antes da integração total com a equipa, testar todos os movimentos exigidos pelo desporto em si com intensidades similares à competição.
  7. A sorte: Entre tantos fatores de risco, sendo alguns controláveis e outros não, torna-se realmente difícil evitar o aparecimento de lesões. Mesmo as equipas de topo, com atletas de alto nível e staffs de elevada competência acabam por ter lesões. Temporadas com zero lesões são utópicas e não existem, faz parte do desporto. Compete-nos avaliar, conhecer os atletas que temos à nossa frente, potenciar as suas qualidades e trabalhar os fatores de risco modificáveis.

PS: A sorte também se procura e se tentarmos fazer bem as coisas de forma consistente, com hábitos de treino, descanso e alimentação adequados aumentamos as nossas probabilidades de sucesso.

 

Fontes:

  • Coles, P.A. (2018) an injury prevention pyramid for elite sports teams. British Journal of Sports Medicine, 52(15).
  • Quarrie, K.L., Alsop, J.C., Waller AE, et al. (2001). The New Zealand rugby injury and performance project. VI. A prospective cohort study of risk factors for injury in rugby union football. British Journal of Sports Medicine, 35:157–166.
  • Hulin, B.T., Gabbett, T.J., Lawson, D.W., et al. (2016). The acute:chronic workload ratio predicts injury: high chronic workload may decrease injury risk in elite rugby league players. British Journal of Sports Medicine, 50: 231–236.
  • Seirul·lo Vargs, F. (1986). Entrenamiento coadyuvante. Apunts. Medicina de l’Esport, 23, 38-41.
  • Gómez, A., Roqueta, E., Tarragó, J. R., Seirul·lo, F., & Cos, F. (2019). Training in Team Sports: Coadjuvant Training in the FCB. Apunts. Educación Física y Deportes, 138, 13-25. doi:10.5672/apunts.2014-0983.
  • Silvers-Granelli, H., Mandelbaum, B., Adeniji, O., et al. (2015). Efficacy of the FIFA 11+ injury prevention program in the collegiate male soccer player. American Journal of Sports Medicine, 43: 2628–3267
  • Carlos Lago Peñas (2021).Barça Innovation Hub: A prevenção e recuperação de lesões nos esportes coletivos: uma pirâmide de fatores a serem levados em conta.